13 de dezembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 348

Efemérides 13 de Dezembro
W. T. Ballard (1903 – 1980)
Willis Todhunter Ballard nasce em Cleveland, Ohio, EUA. A sua carreira como escritor profissional começa em 1927, e desde então escreve perto de uma centena de romances, cerca de 50 argumentos para cinema e televisão e mais de 1000 (mil!) contos. É considerado um dos autores que mais contribui para o desenvolvimento da short story policiaria (de detective) norte-americana, a par de Chandler, Hammett e Gardner. Ballard utiliza vários pseudónimos, registam-se: Brian Agar, Brian Fox, Clay Turner, Clint Reno, Hunter D’Allard, Hunter D'Allard, Jack Slade, John Grange, John Hunter, John Shepherd, Neil MacNeil, P D Ballard, Parker Bonner, Sam Bowie, Tod Hunt, Todhunter Ballard, Walt Bruce e ainda Harrison Hunt em co-autoria com Norbert Davis. Em Portugal é possível encontrar registo da edição de alguns westerns do autor; quanto à narrativa policiária é difícil reunir todos os títulos dos romances publicados devido à variedade de pseudónimos literários usados pelo escritor.
W. T. Ballard
1 – Crime Estilo Las Vegas (1968), Nº95 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: Murder Las Vegas Style (1958).
2 – Não Merecias Morrer! (1969), Nº118 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: (?)
3 – As Sete Irmãs (1970), Nº131 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: The Seven Sisters (1962). É o 2º livro da série Max Hunter.
4 – Loira, Bela E Rica (1972), Nº2 Colecção Círculo Negro, Livraria Bertrand. Título Original: Walk In Fear (1952).
5 – Ódio Antigo (1972), Nº12 Colecção Círculo Negro, Livraria Bertrand. Título Original: (?)

 
Neil MacNeil
1 – Os Caçadores de Espiões (1970), Nº63 Colecção C.I.A. Secção K, Editora Íbis. Título Original: The Spy Catchers (1966).
2 – A Terceira Peça Do Jogo (1970), Nº130 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: (?)
3 – O Parque Do Terror (1972), Nº7 Colecção Círculo Negro, Livraria Bertrand. Título Original: The Death Ride (1960).
4 – Duas Armas Para Alugar (1974), Nº25 Colecção Círculo Negro, Livraria Bertrand. Título Original: Two Guns For Hire (1959).


Ross Macdonald (1915 – 1983)
Kenneth Millar nasce em Los Gatos, California, EUA. Cresce no Canadá, onde vive com a mãe e com diferentes pessoas da família, mudando frequentemente de residência. A ausência de pai e a falta de raízes tornam-se num motivo recorrente na sua ficção. Casa com Margaret Millar (Clicar) Começa a escrever sob o pseudónimo John Macdonald, depois John Ross Macdonld e finalmente Ross Macdonald. Publica o seu primeiro romance em 1944, The Dark Tunnel, sob o seu nome Kenneth Millar e o primeiro livro da série Lew Archer, The Moving Target é editado em 1949. No total o autor escreve 15 romances de mistério / detective, com excepção de 2, todos outros são protagonizados por Lew Archer; 4 romances da série Chet Gordon como Kenneth Millar; 5romances de mistério / detective, sob o pseudónimo John Ross MacDonald, 4 deles da série Lew Archer; 2 colectâneas de contos com Lew Archer como figura principal; e ainda 3 livros de não ficção: On Crime Writing (1973), A Collection Of Reviews (1980) e Self-Portrait: Ceaslessly Into The Past (1981). Edita também em 1974 uma antologia: Great Stories of Suspense. Em 1973 Ross MacDonald é distinguido com o título Grand Master atribuído pelos The Mystery Writers of America. Em Portugal estão editados:
1 – O Caso Galton (1969), Colecção Clube do Crime, Editora Palirex. Título Original: The Galton Case (1959). É o 8º livro da série Lew Archer. Reeditado em 1987 com Nº52 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho.
2 – O Caso Ferguson (1970), Colecção Clube do Crime, Editora Palirex. Título Original: The Ferguson Affair Case (1960).
3 – Um Triste Adeus (1970), Colecção Clube do Crime, Editora Palirex. Título Original: ?
4 – O Homem Subterrâneo (1972), Nº59 Colecção Clube do Crime, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: The Underground Man (1971). É o 16º livro da série Lew Archer. Reeditado em 1978 com o título O Homem Clandestino Nº1 da Colecção Gato Preto, Europress. E novamente, em 1992, com o título O Círculo Da Morte, Nº120 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América.
5 – A Bela Adormecida (1984), Nº4 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Sleeping Beauty (1973). É o 17º livro da série Lew Archer.
6 – Um Carro Funerário Às Riscas (1985), Nº12 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Zebra-Striped Hearse (1962). É o 10º livro da série Lew Archer.
7 – O Arrepio (1985), Nº20 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Chill (1964). É o 11º livro da série Lew Archer.
8 – A Procura De Uma Vítima (1986), Nº55 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: Find a Victim (1954). É o 5º livro da série Lew Archer.
9 – Um Olhar De Despedida (1986), Nº61 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Goodbye Look (1960). É o 15º livro da série Lew Archer.
10 – Túnel De Sombras (1986), Nº67 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Dark Tunnel (1944). É o 1º livro da série Chet Gordon. Escrito como Kenneth Millar e editado em Portugal sob o pseudónimo Ross MacDonald.
11 – Alvo Em Movimento (1986), Nº30 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Moving Target (1949). É o1º livro da série Lew Archer.
12 – Encontro Na Morgue (1987), Nº73 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: Meet At The Morgue (1954). Editado também com o título Experience With Evil.
13 – A Costa Maldita (1987), Nº75 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Barbarous Coast (1956). É o 6º livro da série Lew Archer.
14 – O Outro Lado Do Dinheiro (1988), Nº68 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Far Side Of The Dollar (1965). É o 12º livro da série Lew Archer.
15 – A Piscina Da Morte (1989), Nº88 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Drowning Pool (1950). É o 2º livro da série Lew Archer.
16 – Dinheiro Negro (1989), Nº92 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: Black Money (1966). É o 13º livro da série Lew Archer.
17 – Os Sarilhos Perseguem-me (1990), Nº102 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: Trouble Follows Me (1946), também editado com o título Night Train. É o 2º livro da série Chet Gordon.
18 – Alguns Morrem Assim (1990), Nº98 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Way Some People Die (1951). É o 3º livro da série Lew Archer.
19 – O Inimigo Inesperado (1991), Nº109 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Instant Enemy (1968). É o 14º livro da série Lew Archer.
20 – Morte Em Blue City (1991), Nº118 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: Blue City (1947). Escrito como Kenneth Millar e editado em Portugal sob o pseudónimo Ross MacDonald.
21 – O Esgar Da Morte (1992), Nº120 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Ivory Grin (1952), também editado com o título Marked For Murder. É o 4º livro da série Lew Archer.
22 – Vitória Amarga (1993), Nº138 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime Publicações Europa América. Título Original: The Three Roads (1948). Escrito como Kenneth Millar e editado em Portugal sob o pseudónimo Ross MacDonald.




TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — APONTAMENTOS SOBRE BALLARD
Willis Todhunter Ballard, conhecido como W. T. Ballard, começou por ser um prolífero escritor de pupls, incluindo o Black Mask, ainda que tivesse uma inclinação especial por western (2/3 dos seus livros são deste género), usando, como é natural, um número invulgar de pseudónimos, hoje impossível de controlar. Ao mesmo tempo dedicava-se à arte de guionista cinematográfico. Em consequência da sua fecundidade literária, foi igualmente criador de personagens. Em “Murder Can’t Stop” (1942) surge o protagonista mais famoso Bill Lenox, nada mais, nada menos do que o vice-presidente executivo da Companhia Cinematográfica Consolidated, detective amador e investigador activo de casos criminais, em múltiplos relatos, onde a força de músculos e acção violenta o tipifica e incluem na escola hard boiled. O outro personagem de relevo é o tenente Max Hunter da Polícia de Las Vegas, que aparece pela primeira vez em “Pretty Miss Murder” (1961).
Sob o pseudónimo Neil MacNeill escreveu uma série de investigações qem que o protagonismo é representado pela dupla Tony Costaine e Bert McCall, sendo a primeira obra da série “Death Takes An Option” (1958).

W. T. Ballard



TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — APONTAMENTOS SOBRE ROSS MACDONALD
Keneth Millar, mais conhecido pelo pseudónimo Ross MacDonald, começou a interessar-se por literatura policiária depois de se casar com uma escritora do tema Margaret Sturm (Millar).
Ross que pertence à ala dura norte-americana, segundo o respeitado e respeitável opinião do crítico e escritor Anthony Boucher era melhor escritor do que Hammett e Chandler, porque o criador do personagem Lew Archer, trabalhava mais as cenas de intriga.
Lew Archer é, no seu todo, um personagem mais real do que os seus conhecidos companheiros de profissão — detective. Concebido em larga escala com base na personalidade do autor, atinge lugar de destaque na década de sessenta do último século. Archer é um investigador cerebral e intuitivo, receptivo aos problemas dos jovens, implacável no combate à corrupção ambiental. Iniciou-se na força policial de Long Beach, Califórnia, de onde foi exonerado por não aprovar e pactuar com a iniquidade ali existente. Opta pela actividade particular, entretanto interrompida no decurso da 2ª guerra mundial para servir a pátria. Divorciado da bela Sue, por incompatibilidade agravada pelo desempenho da profissão, ainda que não seja propriamente um asceta, vive como um homem solteiro, demarcando-se assim dos seus camaradas ficcionados, geralmente promíscuos conquistadores do belo sexo. Inteligente e culto, amante das artes e ciências, admira em especial as telas do mestre japonês Kuniyoshi revelando profundos conhecimentos de História Natural, identificando com extrema facilidade árvores, flores e aves.
Voltando à identidade de Archer / Ross MacDonald, dir-se-á que o autor utiliza frequentemente a figura de detective para expressar as suas ideias sobre a sociedade que o rodeia, sobre a vida americana em geral e definitivamente sobre o mundo e o homem.

Ross MacDonald



TEMA — ESPECIALIDADE POLICIÁRIA DE MIRIAM ALLEN DEFORD — PROBLEMA DE IDENTIFICAÇÃO
Adaptação de M. Constantino
Como a maioria dos gémeos idênticos, John e James Williamson não só eram duplicatas físicas um do outro, como possuíam exactamente o mesmo temperamento. Infelizmente, no caso deles, era um temperamento agressivo e irascível. Brigavam quando bebés, discutiam quando crianças, lutavam quando adolescentes e, quando adultos, tornaram-se ferrenhos inimigos.
Este último acontecimento, como era de se esperar, teve origem no facto de ambos se terem apaixonado pela mesma pequena. Quanto a Lydia Carruth, muito embora se sentisse fortemente atraída por… seria John? Ou seria James? A constante confusão e espanto, devidos ao facto de jamais ter certeza sobre qual dos gémeos era o seu namorado, acabaram por romper com ambos.
Cada um dos gémeos culpava o outro por essa calamidade. Para desgosto dos pais, ambos deixaram a casa paterna para se evitarem um ao outro e foram morar em locais separados.
Empregaram-se em firmas diferentes (trabalhavam os dois como operários da construção) e raramente se encontravam.
Tanto quanto possível, cada irmão conseguia afastar-se do caminho do outro.
No limite de Bradenville, onde se inicia a região das lavouras, existe uma vala de irrigação, abandonada. Durante dois ou três anos os moradores da região acostumaram-se a usar a vala como uma espécie de depósito de lixo.
Os miúdos da zona consideravam o local como um verdadeiro depósito de tesouros. E foram dois desses meninos que, de manhã bem cedo numa sexta-feira de Julho, se encontraram no seu esconderijo secreto, a fim de se lançarem numa expedição proibida, à cata de tesouros depositados na vala abandonada.
Timmy Martin, correu à frente de seu amigo Sam Eakings e soltou um brado de alegria.
— Olha só! — berrou ele. — Está ali uma bicicleta novinha!
Começaram a puxar a bicicleta mas logo a largaram e correram pela estrada temerosos.
— Ele… está morto? — gaguejou Sam, com os dentes chocalhando.
Timmy assentiu com a cabeça, engolindo em seco para dominar a náusea.
Sob a bicicleta jazia o corpo de um homem, grotescamente retorcido em virtude da queda.
Os dois meninos, apavorados, correram para a casa dos Martin, que era a mais próxima, e balbuciaram um relato do que tinham encontrado.
O pai de Timmy telefonou para o gabinete do xerife.
O Ajudante do Xerife Millington, que foi o primeiro a chegar ao local, mostrou-se muito seguro: a vítima devia ter-se enganado no caminho, saindo da estrada e caindo na vala, com bicicleta e tudo, quebrando o pescoço na queda.
Quando os outros polícias chegaram e o cadáver foi retirado da vala, tornou-se evidente que, muito embora o pescoço do homem estivesse realmente quebrado, não fora esta a causa de sua morte — a têmpora esquerda fora esmagada por um golpe violento.
Em breve identificaram o morto. Tratava-se de um dos gémeos Williamson.
Todos os habitantes da cidade conheciam a raiva e a inimizade existente entre os dois irmãos. Ambos possuíam bicicletas, ambos trabalhavam em construções, onde usavam ferramentas pesadas; nenhum deles (logo se verificou) passara a noite anterior com pessoas que sem confirmar sua presença num local preciso.
Nenhum dos dois se apresentara para trabalhar naquela manhã. Nenhum deles se encontrava na pensão onde morava. Mas um dos gémeos foi encontrado, caminhando sem destino ao longo de High Street, usando a mesma roupa com a qual deixara o trabalho no dia anterior: capacete, pesadas luvas de trabalho. Foi levado de imediato para a esquadra da Polícia.
— Que Williamson é você: John ou James? — bradou e Xerife Eastwood, logo que o jovem entrou na sala.
Williarnson sorriu sardonicamente, respondendo:
— Adivinhe.
E isso foi tudo.

O casal Williamson — a mãe, histérica, o pai, muito sério e horrorizado — foi chamado à esquadra. Nenhum dos dois era capaz de dizer, com absoluta certeza, se o preso era seu filho John ou seu filho James.
— Nem eu, nem minha mulher jamais fomos capazes de diferençá-los, de ter absoluta certeza — disse o pai. — Ninguém é capaz de fazê-lo desde o dia em que nasceram. O médico disse-me que a única diferença entre eles estava nas impressões digitais.
Engasgou-se um momento. Depois, dirigindo-se ao preso, pediu:
— Diz-nos verdade, meu filho. Foste tu que fizeste aquilo?
Houve um longo silêncio. Então o jovem pareceu tomar uma súbita decisão.
— Sim — respondeu — Fui eu. Todos sabem que nunca nos demos bem Tinha que ser ele ou eu.
O xerife chamou rapidamente um taquígrafo.
— Não foi o bastante ter causado a minha separação de Lydia… quero dizer — continuou o rapaz, falando depressa — Tentou fazer nova canalhice comigo, quando conheci e me interessei por outra. Mora em Wilton. Conheci-a na feira municipal, gostamos um do outro e começámos logo a sair juntos. Chama-se Rose Parsons. Era a minha namorada… só minha; não talvez dele e talvez minha… Não sei como aquele traidor conseguiu descobrir o namoro e tomou conhecimento dos nossos encontros. Na noite de terça-feira não fui a Wilton estava constipado e não me sentia bem. No dia seguinte melhorei bastante; como de costume, na noite de quarta-feira fui a Wilton. Comecei a explicar a Rose o motivo de minha auséncia na véspera. Mas ela disse: “De que estás a falar falando, querido? Está com febre? Estiveste aqui ontem à noite… devias lembrar-te muito bem!” E soltou uma risadinha. Assim, compreendi imediatamente o que se passara. Vi tudo vermelho e disse a Rose: “Devo estar mais doente do que pensava. Se não estiver melhor, não virei amanhã”. Na manhã seguinte… que foi ontem… fiz questão, a caminho do trabalho de passar pelo local onde a firma dele está a construir um prédio. Pensei que poderia vê-lo e, de facto, vi-o.Tudo o que ele disse foi: “Que diabo! Agora vou ficar constipado…apanhamos sempre as mesmas doenças”. Parti na minha bicicleta e fui trabalhar.
— No local havia alguém que os visse a conversar? — perguntou o Xerife Eastwood.
Williamson sorriu.
— Sei o que está a pensar: alguém que trabalhasse no local e nos tivesse visto juntos, a fim de esclarecer qual a obra em questão. Mas não havia ninguém por perto.
Fez uma breve pausa, e logo prosseguiu:
— Assim sendo, na noite de ontem, coloquei-me bem cedo na beira da estrada que vai para Wilton, perto da vala. Esperei. E não foi em vão. Tinha levado comigo uma barra de ferro, para qualquer eventualidade… não creio que consigam descobrir de que obra eu a tirei, pois em ambas há dezenas de barras semelhantes. E quando ele chegou ao lugar onde eu estava à espera, à beira da vala…
Pela primeira vez ele parou de falar durante algum tempo. Depois, disse em voz baixa: golpear
— Ataquei-o!
Mrs. Williamson, soltando um gemido, desmaiou. O filho avançou para a amparar, mas foi retido. Um dos polícias ajudou o marido a levá-la para fora da sala
— Muito bem — disse o xerife em tom enérgico — Essas declarações serão datilografadas e depois você assina. Está preso por suspeita de homicídio. Terá oportunidade de contractar um advogado
— Não preciso de advogado — replicou Williamson com a maior calma — vocês não podem prender-me. Assim que o promotor público chegar aqui, ele mesmo explicará tudo.
— Ora, não me venha com fingimentos, tentando pretender que está louco! — rosnou raivosamente o xerife.
— Não estou. Escute: quem é que está a prender?
— Que quer dizer?
— Não podem prender alguém sem nome, por ter matado uma pessoa que também não tem nome. Estão a acusar John Williamson de ter matado James Williamson? Ou acusam James Williamson de ter matado John? Não podem saber quem sou eu, nem quem é ele. Se fizerem uma acusação formal contra a homem errado, e eu conseguir provar, poderei processá-los por prisão indevida.
O Xerife Eastwood ficou atónito.
— Bern, se não pode ser outra coisa, está preso como testemunha do crime, para averiguações — rosnou ele, afinal. — E ficará trancado numa cela até que possamos resolver o caso.

— Ele tem toda a razão — declarou a promotor municipal Smithers.
O Xerife Eastwood limitou-se a sacudir a cabeça. O Ajudante-de-Xerife, que participava da conferência, estava mudo de raiva.
— Não podemos acusar um suspeito sem ter absoluta certeza de que ele “seja” o suspeito… ou de que a vítima seja mesmo a vitima— lembrou Smithers.
— Deve haver algum modo de saber qual o gémeo que morreu e qual o que cometeu o crime! — explodiu Millington.
— O soro da verdade? Não, não pode ser usado sem o consentimento dele.
Os três homens permaneceram num silêncio sombrio, cada qual esforçando-se por descobrir uma solução. Afinal o Promotor Smithers deu um murro na mesa.
— Descobri!— exclamou, triunfante. — Hardin está a construir o anexo da escola, na extremidade norte da cidade; Mo Gattigan conseguiu a contracto para construir aquele novo loteamento, perto riacho, ao sul da cidade.
Os outros dois olharam, ser entender. O promotor municipal explicou:
— Mandem os sapatos de ambos os irmãos Williamson ao laboratório da polícia estadual, solicitando uma análise das partículas de solo entranhadas no couro e nas costuras.
O morto trabalhava para Hardin & Companhia.
James Williamson foi condenado e executado por ter assassinado o seu irmão John.

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