5 de outubro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 279

Efemérides 5 de Outubro
Peter Ackroyd (1949)
Peter Warwick Ackroyd nasce em East Acton, West London, Inglaterra. Editor, poeta, biógrafo, crítico de cinema e romancista, é um escritor conceituado e galardoado com alguns dos mais prestigiados prémios literários. O autor tem uma vasta obra publicada, destaca-se a relacionada de alguma forma com o policiário: Dan Leno And The Limehouse Golem - The Trial Of Elizabeth Cree (1994), The Canterbury Tales – A Retelling (2009) e ainda 2 livros editados entre nós
1 – Contos De Clerkenwell – Aventura E Suspense Na Idade Média (2006), Colecção Outras Estórias, Editora Teorema. Título Original: The Clerkenwell Tales (2003).
2 – Poe – Uma Vida Abreviada (2009), Colecção Livros de Culto – Literatura Contemporânea Editora Camões & Companhia. Título Original: A Life Cut Short (2006).



TEMA — FICÇÃO OU REALIDADE — O MISTÉRIO DOS DISCOS VOADORES
Duas versões diferentes sobre o mesmo tema palpitante.
A primeira de Richard Davis, escritor de ficção científica, servindo de introdução a uma antologia da temática publicada em Portugal; a segunda de Sérgio Vieira, extraída de um jornal já extinto há muitos anos.
Como é óbvio não comentamos, tanto mais que nos falta cultura técnico-científica para o efeito.
M. Constantino

VI UM OVNI
De Richard Davis
Há algumas noites vi um OVNI.
Talvez não fosse um OVNI, num sentido rigorosamente técnico. Talvez qualquer astrónomo competente soubesse imediatamente o que aquilo era; mas a mim pareceu-me um OVNI, e isso é o que na realidade interessa. E quando me recordo do caso, tal ideia ainda se mantém. Acho que aquilo deixou em mim uma espécie de sensação inexplicável, embora na altura eu tentasse fortemente racionalizar o caso.
Permitam-me que vos diga desde já que, apesar de ser um ávido leitor e estudioso da ficção científica (se assim não fosse nem se compreenderia que publicasse um livro como este), eu ainda nunca tinha visto um OVNI, nem nunca ninguém me viu em Highgate Hill, ou lá onde se costumam juntar aquelas centenas de pessoas que ficam à espera de ver um OVNI. Foi uma simples coincidência o facto de eu estar a preparar este livro e ver aquela coisa.
Sucede que vivo na área em que as aparições desses objectos têm sucedido com mais frequência. Claro que não vos vou dizer o local exacto, mas simplesmente que fica no interior de Kent, numa zona campestre e bastante remota. A estrada aqui é aquilo que costuma classificar-se como “caminho”, o que significa que não é alcatroada, porque não pertence a nenhum município; quase não há trânsito, e por isso é muito sossegada. Sob vários aspectos, é um sítio perfeito para se verem objectos não identificados.
Bom, seja como for eu estava para ir passar o serão com a minha vizinha do lado, e tinha acabado de fechar a porta de casa quando calhou olhar para o céu, e ali estava ele. A noite estava admiravelmente calma e todas as estrelas tão brilhantes e visíveis que até Patrick Moore teria saltado de alegria. Corri até casa da minha vizinha, quase lhe deitei a porta abaixo, agarrei na manga do casaco do irmão dela e arrastei-o à força até ao jardim. Eu precisava de uma testemunha para confirmar o que estava a ver. Provavelmente ele pensou que eu tinha endoidecido — e talvez tivesse razão —, mas pelo menos também viu aquilo, e também ficou completamente embasbacado; o que me satisfez profundamente, porque ele é estruturalmente céptico. Nunca lê uma linha sequer de ficção científica (que vergonha, dirão…) e não acredita nem um bocadinho só nesses disparates do espaço exterior
(Sabiam que alguns dos membros da Sociedade Terra Plana ainda estão convencidos de que as viagens à Lua das naves Apolo foram simuladas num estúdio?).
Portanto, que vi eu, ou melhor, que vimos nós na realidade? Bom… como disse, o céu estava tão claro que se podiam ver todas as estrelas; a princípio pensei que aquilo era mesmo uma estrela, até reparar que se movia, que se movia com incrível velocidade. Parecia exactamente uma estrela, com a diferença que se apagava e acendia. Não tinha qualquer, espécie de cauda brilhante, como é costume ver-se nas estrelas cadentes e, como não havia sopro de vento, o som do motor seria facilmente audível se fosse um avião. Tenho visto imensos aviões a voar de noite — como toda a gente aliás — e na realidade ninguém os toma por outra coisa qualquer. Aquele objecto era perfeitamente silencioso e seguia de ocidente para oriente, até que o perdemos de vista por detrás de um renque de árvores.
É claro que podia tratar-se de um satélite; um dos inúmeros monstros metálicos que as grandes potências têm lançado para o espaço nas últimas décadas. Tal como muitas das histórias dos OVNI dadas como verdadeiras, a minha experiência acaba por ser, ao fim e ao cabo, frustrante e indefinida. E até à data não teve qualquer sequência.


ONDE ACABA A FICÇÃO E COMEÇA A REALIDADE
De Sérgio Vieira
Hoje em dia são muitas as pessoas que defendem a visita de seres extraterrestres ao nosso planeta, desde tempos recuados
Quase sempre são apontados factos históricos como base de argumentação, desde as pinturas rupestres descobertas nas montanhas de Tassili, no território do actual Sara, que lembram homens com fatos espaciais, às enormes estátuas de pedra da ilha de Páscoa, passando pela coluna de ferro puro existente na Índia, gigantesca “área de lançamento” de Baalbek e o “aeródromo” do planalto de Nazca, na América do Sul.
São obras que muitos explicam como sendo vestígios deixados por extraterrestres que trabalharam na Terra. Aliás, a possibilidade de várias formas de vida inteligente no Universo já foi avançada na Antiguidade. “Considerar a Terra como único mundo habitado é tão absurdo como afirmar que num campo semeado de milho germinará um único grão”, afirmava Metrodorus, filósofo grego do séc. IV a.C.
A mesma afirmação havia sido escrita ainda antes, por outro filósofo grego. Anaxitnander. Já Giordano Bruno, no século XVII, pagou com a vida a defesa de ideias semelhantes.
É verdade que nenhum deles falou de extraterrestres. A hipótese da sua vinda à Terra tornou-se particularmente proposta a partir da altura em que a população americana viveu momentos de pânico quando, sem qualquer aviso, Orson Welles pôs no ar a sua versão radiofónica da “Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells.
Cidadãos apavorados saltaram pelas janelas ao ouvir o locutor anunciar que as tropas marcianas já tinham conquistado a Quinta Avenida. Depois com o evoluir da conquista espacial, a possibilidade de uma visita extraterrestre começou a parecer menos impossível. “Se o homem pode ir ao espaço, por que não podem outros vir dele?” argumentava-se. Em numerosos países assistiu-se a uma verdadeira proliferação de obras sobre este tema, desde as mais sérias às mais absurdas. Mas a popularidade dos extraterrestres atingiu o seu apogeu em Erich Von Daniken. Para descobrir os “seus rastos” viajou pelo Mundo inteiro e os resultados das suas investigações culminaram com livros traduzidos em 26 línguas.

As opiniões dividem-se
Como explicar verdadeiros fenómenos de épocas remotas, sem cair na justificação fácil de extraterrestres? A coluna indiana, por exemplo, foi efectivamente elaborada em ferro puro que os metalúrgicos antigos não sabiam elaborar. Mas há muito que se provou que foi forjada com o ferro de um meteorito e representa um monumento erigido em honra de um fenómeno celeste que tinha impressionado o espírito dos indianos.
Baalbek, por outro lado, é uma colónia romana, um imenso edifício de culto, cuja construção foi empreendida no século II pelo imperador António, e terminada no século III pelo imperador Caracalla. No início do nosso século, o arqueólogo alemão O. Puchstein descobriu ali várias moedas romanas e fez a descrição detalhada desta obra.
É verdade que se encontram ali monólitos de pedra de 550 e 600 toneladas, mas este facto não é suficiente para explicar a presença de extraterrestres. A pirâmide de Uréphren, por exemplo, tem pedras de 500 toneladas e foi construída 2500 anos mais cedo, quando não havia um único instrumento de ferro, e nunca ninguém defendeu a tese de que as grandes pirâmides tivessem sido construídas por habitantes de outros planetas.
As gigantescas representações de pássaros, animais e insectos, gravados no solo do planalto de Nazca, na costa meridional do Peru, têm sido apontadas como uma das provas mais evidentes da vinda de extraterrestres, servindo de sinalização de um aeródromo gigante.
Ora, os vestígios de Nazca, que foram descobertos em 1939 pelo arqueólogo alemão Paul Kosac datam do séc. III a.C. e representam uma espécie de calendário solar e lunar que permitia aos habitantes dessa região estabelecer os prazos dos trabalhos agrícolas. Os desenhos tinham também um destino prático e ritual e encontram-se igualmente em objectos de cerâmica e de tecelagem dos habitantes de Nazca.

Especulação é contrária ao espírito científico
Parece que, se os extraterrestres estiveram no nosso planeta, quiseram deixar marcas que se pudessem confundir facilmente com vestígios da actividade humana, o que não parece muito lógico.
Se se proceder a uma análise objectiva da hipótese da vinda de extraterrestres, devemos reconhecer que não há lei nenhuma da natureza que os tivesse impedido de visitar a Terra. Pelo contrário, não é essa hipótese mas a negação obstinada de uma eventual visita ao nosso planeta por outros seres dotados de inteligência que é preciso considerar.
Um poeta russo, Nicolai Zabolótski, que nada tinha de investigador escreveu um dia: “Vivemos quase todos ainda num período de antes de Copérnico no que respeita às nossas noções sobre a nossa exclusividade terráquea e temos uma inclinação para atribuir a um campo místico tudo o que contradiz essas ideias, sem procurar ir ao fundo da questão.”
O poeta tem razão, mas existe uma diferença entre a probabilidade de um acontecimento e um acontecimento real. Uma coisa é acreditar nisso e investigar os factos, outra é falseá-los em nome dessa crença.
Para a maioria dos cientistas, a vinda de extraterrestres não é impossível mas dão-se conta que não têm à sua disposição nenhum facto incontestável que prove que uma visita espacial tivesse ocorrido no passado. Mas, apesar das hipóteses antigas sobre a multiplicidade dos mundos habitados, apesar dos imensos sucessos da astronomia e da astronáutica durante os últimos anos, apesar dos anos de investigação sistemática de outras civilizações, não há, ainda, nenhuma prova que possa corroborar a sua existência.
A vinda de extraterrestres à Terra só pode ser provada de duas maneiras: ou se encontram vestígios irrefutáveis da sua visita (por exemplo, uma nave espacial ou um aparelho científico de origem desconhecida) ou se descobre uma civilização dê seres dotados de razão que nos forneça provas dessa visita.
Actualmente, a hipótese sobre os extraterrestres, tal como é mantida, pode tornar-se nociva pois apresenta uma resposta demasiado fácil para a questão. Encobrindo-se com a toga da ciência, esse mito é, de facto, contrário a ela. O problema verdadeiramente científico de uma investigação de contactos com civilizações extraterrestres contêm para os autênticos investigadores uma multidão de questões não resolvidas que começa na linguagem dos sinais espaciais e acaba nos “discos voadores”.
Linhas de Nazca
Fonte: Wikipédia


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