6 de julho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 188

EFEMÉRIDES – Dia 6 de Julho
M G Eberhart (1899 – 1996)
Mignon Good Eberhart nasce em Lincoln, Nebraska, EUA. Publica o primeiro romance em 1929, Patient In Room 18, com que inicia a série Sarah Keate (total 7 livros). Seguem-se mais de 50 livros e numerosas short stories. É uma das melhores escritoras americanas de género policiário, com uma das carreiras mais longas, desde o final dos anos 20 até à década de 80. A trama dos seus livros caracteriza-se pelo protagonismo de heroínas, num cenário exótico repleto de suspense, mas ao mesmo tempo com um ambiente credível e personagens genuínos. A escritora tem várias obras adaptadas ao cinema e à televisão. Em 1971 recebe o título de Grand Master dos Mystery Writers of America's, em 1977 é eleita presidente desta organização; em 1994 é distinguida com o Agatha Award.
1 – Um Drama No Atlântico (1950), Nº36 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Five Passengers From Lisbon (1945)
2 – Nas Asas Do Terror (1951), Editorial Édipo. Título Original: Wings Of Fear (1945)
3 – A Última Caçada (1951), Editorial Minerva. Título Original: (???)
4 – O Crime No Hospital (1953), Editorial Édipo. Título Original: While Patient The Slept (1930). Reeditado em 1999 com o título O Mistério Do Elefante De Jade, Nº165 Colecção Clube do Crime, Publicações Europa América
5 – Um Cigarro Misterioso (1953), Nº36 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Never Look Back (1951)
6 – Sangue Azul (1954), Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: Murder By An Aristocrat (1932), também editado com o título Murder Of My Patient
7 – A Sombra De Outra Mulher (1961), Nº5 Colecção 3 C, Editora Ulisseia. Título Original: Another’s Woman House (1947)
8 – Chamada Depois Da Meia Noite (1967), Nº99 Colecção Enigma, Editora Dêagá Título Original: Call After Midnight (1964)
9 – O Doente Da Cabine C (1985), Nº44 Colecção Clube do Crime, Publicações Europa América Título Original: The Patient In Cabine C (1983)
 10 – Assassino À Espreita (1998), Nº164 Colecção Clube do Crime, Publicações Europa América Título Original: Murder In Waiting (1973)




TEMA — CRÓNICAS DO PASSADO — UMA CIDADE DE “TIPOS”
Por Repórter X
O trabalho de pesquisa, remexer em papéis velhos, amarelecidos pela passagem do tempo tem as suas frustrações e satisfações, mas esta compensam-se inegavelmente. Encontrámos num antigo livro de crónicas datadas de 1929, assinadas por Reinaldo Ferreira, o super famoso Repórter X, algo que vale a pena recordar.
Nasci em 1925 não conheci e se conhecesse não poderia entender a Lisboa dessa época. Quem se lembra? Faço-a recordar pela pena atrevida do Repórter X.
M. Constantino.

Lisboa foi sempre uma cidade de “tipos”; foi sempre um circo enorme e de variado elenco. Mas os “tipos” de Lisboa eram sempre loucos, desequilibrados, aleijões, imbecis — imprudentemente lançados á rua, expostos á chalaça cruel do populacho.
Lisboa conserva hábitos medievais; hábitos de cidade que não tem cousas sãs e cousas de arte para se destacar. Necessita da desgraça e da fatalidade dos seus irmãos para rir e para gozar, como num espectáculo. Lisboa necessitou sempre de bobos. Lisboa teve sempre os seus bobos.
Chegamos a orgulhar-nos de dispor de grandes colecções de bobos. Houve épocas em que eles se contavam por dezenas — e passavam livremente pelas ruas, seguidos pela garotada, que os açulava como se açulam os cães, excitando-lhes as loucuras, as manias, as epilepsias — e sem que se tomassem nunca medidas para evitar tais angústias.
O “Anão dos Assobios” ao “Menino do Castelo” que vasto mostruário de desgraças, de aleijões, de desequilíbrios, de idiotismos não perpassaram por esta capital, entre pedradas e galhofas, troças e encontrões? Quantos? Quantos?
O “Tlim-das-Flores” que andava florido de sardinheiras, engrinaldado de papoulas, entoando canções revolucionárias e sorrindo sempre, numa loucura mística e suave de profeta analfabe…
O “Comboio das Onze”, o “homem—expresso”, seta humana que atravessava as ruas numa velocidade cortante, guinchando apitos como se de facto, dentro do seu cérebro, circulasse o sangue-vapor duma locomotiva; “O Amanha anda a Roda”, imbiciloide, semiparalítico, babando-se ao lançar o pregão monótono das cautelas; O “Cabuco”; o “Pinheiro Maluco” filósofo profundo, com a psicose dos comícios, propagandeando pelas esquinas as suas teorias muito mais ajuizadas e morais do que as de alguns psiquiatras; o ‹”Pinheiro Maluco”, que em pleno Chiado fuzilava com epiléptica cólera as damas honestas que se apresentavam semi-nuas e as mães católicas que exibiam filhas garotas, todas coloridas já pelos carmins da maquilhagem; o “Fiscal”; o “Homem Macaco”, fenómeno de ginástica, o maior artista da galeria dos bobos da capital, pulando por cima dos eléctricos como uma bola-humana chutada por um campeão de bola e que, finda a função, caía de bruços sobre um alguidar de água e a sorvia numa sede aflitiva.


Figuras de Stuart de Carvalhais (Clicar) 


TEMA — DIÁRIO DE UM ADVOGADO
O seu filho estava preso, disse. Há dois dias. Sem justificativa legal. Vinha para me constituir advogado e para que eu tornasse providências. Primeiro, pedi que me desse uma autorização por escrito. Depois, senhor já de todas as informações, pedi que ficasse ao meu lado. Telefonei para o comissário. Falei com o delegado. O rapaz foi solto e veio logo, directo para o escritório. Chegou a hora dos honorários.
O homenzinho ficou visivelmente irritado. Não compreendia que um simples telefonema pudesse ser cobrado. Tive de lhe demonstrar que naquele telefonema estavam o meu curso de Direito, o meu crédito profissional, as relações que soubera fazer e cultivar, o meu prestígio e a minha força.
Por fim compreendeu. E pagou.


TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — 17
(continuação de CALEIDOSCÓPIO 164)

Das Fräulein von Scuderi” (1818-1819) de Ernst T. A. Hoffmann é o seu mair galardão e o melhor contributo para a novelística policiária. O autor transporta a acção a Paris, ao século de Luís XIV e de Voltaire, e a heroína é mademoiselle Scuderi. Revelou-se uma série de crimes misteriosos nos quais o autor dá vida e celebridade aos de si já famosos, polícias franceses, presentes no caso da Marquesa de Brinvilliers, La Reynie e Degrais, já anteriormente referenciados.
A notoriedade da obra, de ingredientes, entre o sensacional e o policial ou judiciário — classificação, esta última, que se tornou vulgar designar a partir dos relatos dos tribunais transformados quase sempre, em ficção e muita especulação — para maior brilho do autor, ocasionou no momento intensa polémica entre os adeptos do real, do aproveitamento político-social e até anedótico das coisas.

O método do “Newgate Calendar” deu lugar ao “Newgate Novels” (1825), com procura imensa aparecendo neste mesmo ano uma outra publicação similar: “Celebrated Trials and Remarkables Cases of Jurisprudence of 1825”, que pretende ser um estudo sério da matéria.
Ninguém terá dúvidas da influência destes escritos, populares e popularizados, no futuro género policial. E se acrescentarmos às obras de Hoffmann, “Die Sängeri” (1826) de Wilhelm Hauff (1802-1827) e “Geschichte vom braven Kasperl und dem schönen Annerl” (1817) de Clemens Brentano, ou Klemens Brentano (1778 –1842), convenhamos que a contribuição alemã no domínio do affaire criminel é extremamente relevante.

Hawkeye, um personagem de James Fenimore Cooper, de Burlington, Nova Jersey (1789-1851.) apresentado no ciclo de novelas denominadas “Leatherstocking Tales” é na realidade, Nathaniel (ou Natty) Bumppo, um miúdo criado entre índios Delawere Delaware, a quem chamam “Olho de Falcão”, pela segurança e alcance da sua vista, “Língua Sincera”, por não gostar de faltar, e ver faltar, à verdade, “A Pomba”, pela velocidade da sua corrida. Em “The Last of the Mohicans” (1826), que não é o primeiro livro da série mas o mais valioso para o presente estudo. É um homem de músculos endurecidos pela fadiga e pelo trabalho. E astuto, rápido, nobre, batalhador, ágil, certeiro, bom carácter e o homem mais apto a seguir pistas e deduzir factos, o que o tornam um verdadeiro detective (se tal palavra já existisse) entre os índios.

… a moça de cabelos escuros passou por aqui, fugindo como uma corça assustada, e ninguém, que foge, pára, para deixar que assassinem.
Procuremos os sinais que, por sorte, pode ter deixado na fuga, pois aos olhos de um índio até um pássaro deixa rasto no ar… quase não havia terminado de falar deu um grito de alegria, junto do limite do bosque, quando os outros se aproximaram viram um pedaço de véu flutuando nos ramos baixos de uma faia.
— Calma! Calma! — disse o explorador, retendo Hayard com o cano da espingarda. Estamos na pista, mas é preciso cuidado para não estragá-la.
— Aqui está uma pegada.
— Um mocassim parece-se muito com outro mocassim.
— Um mocassim igual a outro? Ora essa. Isto é o mesmo que dizer que há dois pés iguais, quando todos sabemos que uns são mais largos ou mais curtos que os outros, com mais ou menos arco e com dedos abertos ou apertados…



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