5 de julho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 187

EFEMÉRIDES – Dia 5 de Julho
Anthony Berkeley (1893 – 1971)
Anthony Berkeley Cox nasce em Watford, Inglaterra. Jornalista e escritor é considerado como um dos grandes inovadores da literatura policiária ao antever o desenvolvimento do romance policiário psicológico. Escreve sob o seu nome real e sob vários pseudónimos: como Anthony Berkeley publica short stories e 24 livros, 10 dos quais protagonizados pelo detective amador Roger Sheringham; sob o pseudónimo Francis Iles escreve 4 romances e algumas short stories; como A. Monmouth Platts escreve Cicely Disappears (1927). É um dos membros fundadores do Detection Club. Em Portugal estão editados:
Francis Iles
1 – Suspeita (1954), Nº33 Colecção Escaravelho de Ouro, Editorial Édipo. Título Original: Before The Fact (1932)
2 – Quanto À Mulher (1974), Editorial Século. Título Original: As For A Woman (1939)
3 – Malícia Premeditada (1992), Nº535 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Malice Aforethought (1931)

Anthony Berkeley
1 – Erro Judiciário (1961), Nº169 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Trial And Error (1937).
2 – A Festa Da Enforcada (1962), Nº178 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Jumping Jenny (1933). É o 8º livro da série Roger Sheringham.
3 – O Mistério Dos Bombons Envenenados (1962), Nº185 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Poisoned Chocolates Case (1929). É o 5º livro da série Roger Sheringham.
4 – Os Crimes Das Meias de Seda (1963), Nº196 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Silk Stocking Murders (1928). É o 4º livro da série Roger Sheringham.
5 – Droga Fatal (1964), Nº209 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Not To Be Taken (1946).
6 – O Cruzeiro Fatídico (1965), Nº219 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Panic Party (1934). É o 10º livro da série Roger Sheringham.
7 – Quem Matou o Almirante (1989), Nº500 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Floating Admiral (1932). Como Co-autor Detection Club
8 – Crime No Último Andar (1992), Nº542 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Top Storey Murder (1931). É o 6º livro da série Roger Sheringham, também editado com o título Top Story Murder.
9 – A Culpa foi Do Veneno (1993), Nº554 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Picadilly Murder (1929).


TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA NARRATIVA POLICIÁRIA CLÁSSICA (Parte II- c)
por M. Constantino

ELEMENTOS FUNDAMENTAIS (c)
Detective

4. A Tradição, com mais de um século de existência aponta para um quarto elemento; o herói da narrativa — o INVESTIGADOR ou DETECTIVE.
É é a figura que atrai sobre si, sem limitações de fronteiras, credos, raças, níveis económicos ou sociais as atenções e simpatias dos leitores. Um personagem mítico pio que ultrapassa a fama do próprio criador — o escritor — e se projecta na popularidade futura, lugar reservado nos tempos passados aos heróis de façanhas de cavalaria — moderno cavaleiro andante na luta do bem contra o mal — como justamente já foi designado.
Notáveis senhores de um poder analítico e dedutivo extraordinários, possuidores de uma invulgar arte de investigar crimes, Auguste Dupin e Sherlock Holmes, pai e continuador relevantes da narrativa policiária, são os paladinos indiscutíveis, Criaram, aliás, métodos de acção e meditação, precisos movimentes tácticos, expedientes profissionais, uso do disfarce, etc.. que a verdadeira polícia oficial não só desprezou como adoptou.
Dupin é o pensador exímio e independente; Holmes é o detective particular actuante, excêntrico e misógino, tocador de violino, de raciocínio agudíssimo um tanto desumanizado, para quem o crime é apenas um problema e o criminoso a peça do puzzle que movimenta e ajusta à solução. Padre Brown nega todo o racionalismo e toda a lógica e ciência, os seus métodos são psicológicos:

A ciência é uma coisa maravilhosa, quando se pode aplicar; no seu verdadeiro sentido, um dos vocábulos mais admissíveis do mundo… quando proclamam a criminologia como uma nova ciência, referem-se a instalar-se fora do homem, e estuda-lo como se fosse um insecto gigantesco… Eu não tento permanecer fora do homem. Procuro colocar-me dentro do assassino. Na realidade, é muito mais do que isso. Estou dentro dele… aguardo até saber que estou dentro de um assassino, pensando os seus pensamentos e lutando com as suas armas.

Poirot “faz funcionar as pequeninas células cinzentas” para chegar a um resultado através do raciocínio e da lógica:

Não se deve empregar apenas os músculos. Não é preciso curvar-me o medir pegadas, apanhar as pontas de cigarros e examinar folhas de relva pisadas. É o suficiente, para mim, sentar-me e pensar…

Lecoq, o obstinado e astuto agente da polícia de Paris, é o primeiro polícia oficial de ficção, mas oficial ou particular, o determinismo narrativo impõe ao investigador idêntica missão: descobrir a verdade, desvendar o mistério para cuja construção não participou.
Poucas, muito poucas, são as narrativas em que este personagem aparece inanimado. A preferência, porém, vai para os investigadores ou polícias amadores em detrimento da polícia oficial, dos quais estes e tantas vezes (se bem que não passe de insólito contrassenso) são meros instrumentos para serviços oficiais ou “pedras ou figuras” pejorativas, mesmo ridículas, do jogo que faz realçar os recursos incomparáveis dos “privados”
Rouletabille, o jornalista-detective, de Gaston Leroux, Gabriel Gale, o poeta detective de Charleston, Nero Wolfe, de Rox Stout, o Dr. Gideon ou Sir Henry Merrivale, de :John Dickson Carr, Lord Peter Winsey, de Dorothy Sayers, Philo Vance, de S. S. Van Dine, Poirot Miss Marple, de Agatha Christie, são exemplos, entre centenas, da afirmação.
Os caracteres físicos e personalizantes são invariavelmente distinguidos, como a cegueira de Max Carrados e Capitão Duncan Maclain, respectivamente de Ernest Bramah e Baynard Kendrick, e a sofisticação de Philo Vance ou de Ellery Queen, a aristrocracia de Perter Winsey, a homossexualidade de Dave Brandstetter, o enanismo de Robert Frederickson, etc. etc.
Não faltam as profissões mais díspares: Ephrain Tutt, de Arthur Train, Perry Mason, de Gardner, Patrick Mulligan, de Baronesa Orczy, são advogados; o Dr. Thorddyke de Austin Freeman e o Dr. Jan Czissar de Eric Amber são médicos; Lutter Trant é psicólogo; Trent pintor, Ti juiz, como o é Henri Bencolin; Sarah Keat e Susan Dale são enfermeiras e Mary Ursula, freira…
Todas as raças estão representadas com predomínio da branca; Charlie Chen (chinês), Kogoro Akechi (japonês); Toussaint Moore, Lee Hayes e Tenente Virgil Tibbs (negros-) Harry Kemelman e Isaac Sidel (um rabino e o polícia judeu), David Return (um índio), etc. etc..
Com as mesmas virtudes dos homens, existem mulheres detectives, para além das já referenciadas Sarah Keat, Susan Dale, Mary Ursula e Jane Marple, podemos acrescentar Mrs. Paschal, Vilet Strange e umas tantas outras; e até meninos: Berney cook, Eddie Parks, Philip John Davenaut, Beautrelet, Archie, April, Dianh etc..
Mas a polícia oficial, de todas as graduações tem o lugar próprio na construção narrativa. Inspectores, French (de Wills Crofts), Henry Wilson (do casal Cole). John Poole (de Henry Wade), Grant (de Josephine Tey), Tenente Valcour (de Rufus King), Capitão Heimrich (do casal Lockridg), Tenente Calhoun (de Thomas Walsh), Tenente Carella (de Ed Mc Bain), Sargento Sidney Wilks (de Hilary Waugh), Comissários Gilles e Maigret (de Jacques Decrest e Simenon, rspectivamente) etc., etc,,
Os métodos rivalizam-se da mesma forma, Se, como já vimos anteriormente, Duoin é o pensador analítico, Holmes o frio detective. Vance será o indutivo que raciocina do criminoso para o crime, Gabriel Gale um intuitivo, Padre Brown, um devassador da alma humana que faz da investigação criminal um apostolado, Maigret é o mais real dos investigadores de ficção, um tanto sentimental, sonhador, vive como qualquer mortal com virtudes e defeitos, conhece a vida e as fraquezas humanas, e é a partir destas quem chega humanamente à verdade.
Consoante as épocas, processos ou características que identificam os investigadores de ficção, “privados” ou “oficiais”, todos manifestam a preocupação comum: a descoberta da verdade.

5. Algo importante é de referir. Pode ocorrer que em relação a estes três últimos elementos mencionados (vítima criminoso e investigador) os mesmos se cheguem a confundir. Com mais ou menos habilidade do autor, excepcionalmente o detective pode converter-se em criminoso, este pode ser a própria vítima ou a vítima o criminoso. Com maior excepção verifica-se que o detective pode ser a vítima ou aa vítima o detective.

Um quadro perfeito:
Detective = Criminoso
Criminoso = Vítima
Vítima = Criminoso
Detective = Vítima
Vítima = Detective

Como factores de estudo destas variações, autênticos golpes de prestidigitador à intenção dos leitores, consulte-se várias obras de Jim Thomson, “Convite para a Morte” de Agatha Christie, “O Vingador de Brian Gardfield, “Killing Time” de Donald Westlake — não descobrimos a tradução nacional — e, emoção Minuto a Minuto, de John Godey, se bem que com inteira justiça, não se enquadrem inteiramente na narrativa clássica ensaiada.

As bases fundamentais da narrativa policiária clássica aqui estão: CRIME ENIGMÁTICO, VÍTIMA, CRIMINOSO E DETECTIVE. O resto é roupagem acessória à disposição à disposição do autor para firmar o argumento.
Cada escritor tem o seu caminho, meta e estilo próprio — não há um padrão único.
As boas narrativas policiárias do tipo clássico, são actualmente um género bem definido, cheio de dignidade e arte, sustentam e justificam uma indiscutível posição literária.

Pouco-muito se pede dos autores:
— Perfeição artística e literária;
— O segredo de Xerazade: imaginação inesgotável.


TEMA — O CRIME NA LITERATURA NÃO POLICIÁRIA — UM EPISÓDIO DE EXTORÇÃO —
São Jorge de Ilhéus de Jorge Amado
Lola abria a porta do apartamento para o vizinho que descera ou subira de um andar próximo, onde vivia com toda a família, mulher e folhos. O homem vinha com precauções, aquela aventura no mesmo prédio em que residia a sua família não deixava de ter o seu perigo, apesar de isso lhe dar também um sabor especial. Lola fazia-se mais amedrontada ainda. Dizia que era medo do marido, o terrível marido ciumento, capaz de fazer escândalos, de matar, de pintar o diabo. Depois, prendia o ricaço no seu corpo e as tardes de amor duravam mais ou menos uma semana, até que um dia, inesperadamente, quando já o ricaço se sentia em segurança, Pepe irrompia no quarto, no momento supremo dos amantes, o revólver numa das mãos, os olhos incendiados, a voz aos gritos:
— Perra!
Lola não podia deixar de admirar a representação de Pepe, a voz com que ele gritava o insulto, os olhos incendiados. Era um artista. Ela o amava, cada vez o amava mais. Na cama, o ricaço tremia. Em geral se tratava de um pacato negociante a quem um escândalo prejudicaria enormemente, ainda mais um escândalo no mesmo prédio onde residia a sua família. O homem se sentia morto, Pepe gritava insultos e ameaças. Ao ver que o “amante” estava perfeitamente amedrontado, modificava um pouco o tom da voz e, quando o ricaço propunha uma possibilidade de acerto para aquele negócio todo, Pepe tinha uma rápida crise de dignidade, para logo depois se mostrar disposto a estudar a possibilidade de limpar a sua honra com outra coisa que não fosse sangue. Falava muito em honra manchada e cobrava caro, muito caro. Vinha o cheque, o ricaço recebia suas roupas e escapulia, jurando que nunca mais haveria de se meter com mulheres casadas… E como Lola ganhara, no decorrer da comédia, alguns presentes valiosos do apaixonado, o casal tinha sempre um bom lucro no negócio.

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