19 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 171

EFEMÉRIDES – Dia 19 de Junho
Robert Traver (1903 – 1991)
John D. Voelker nasce em Ishpeming, Michigan, EUA. Advogado, juiz e escritor sob o pseudónimo Robert Traver. Publica em 1958 Anatomy Of A Murder, baseado num caso real de homicídio em que é advogado de defesa. O livro é um bestseller e em 1959 é adaptado ao cinema por Otto Preminger, protagonizado por James Stuart e com música de Duke Ellington. O filme recebe vários prémios e é classificado como um dos melhores filmes de sempre. Robert Traver escreve vários romances e short stories.


Paul Halter (1956)
Nasce em Haguenau, Alsácia, França. Publica o primeiro romance La Malédiction De Barberousse com que obtém o 2º lugar do Prix Cognac em 1986 e o prémio da Société des Escrivans d’ Alsace e de Lorraine, o que incentiva o autor a prosseguir na carreira literária. No ano seguinte com La Quatrième Porte ganha o Prix Cognac e, em 1988, o Prix du Roman d’Aventures com Le Brouillard Rouge. Paul Halter continua a somar prémios, cria dois personagens: o Dr. Alan Twist, um criminologista de renome, nascido em Dublin em 1882, e que é a figura central de 24 livros; e Owen Burns, um esteta victoriano inspirado em Oscar Wilde que protagoniza 7 títulos. O autor, especialista em mistérios impossíveis e/ou de quarto fechado, tem publicados cerca de 60 livros, alguns adaptados ao cinema, televisão e banda desenhada.


TEMA — CONTO POLICIÁRIO — NÃO É FÁCIL; O CRIME PERFEITO
De Severina Fortes
Na estranha apatia em que a sua vida sentimental mergulhara, Maria Joana ocupava inteiramente os ócios na moldagem de cerâmica plástica, a que dava formas bizarras e rotundas, cozia no forno artesanal e pintava de acre, magenta — ou azul chinês — com toques de negro e branco. Era uma ocupação voluntária que lhe dava prazer e descontraía, refugiada num compartimento da mansarda
Havia o emprego na repartição na cidade, a âncora de segurança (outro mundo com interesses, companheirismo, apelos…); a quase isolada Vivenda Azul, nos arredores (o lar a dois com Luís Mário antes da presença insólita de Jean Paul depois do regresso de Paris, após a permanência necessária. à sua formação de pintor entre os do seu meio); e um futuro para encher de tempos felizes: a alegria negada pelo fosso rasgado entre o casal e que dia. à. dia mais se cavava.
Não houvera explicações. Luís Mário não retomara a intimidade do casal nem mostrou preocupação em saber como Maria Joana superava a situação. E ela não reclamara por dignidade magoada, numa espécie de ciúme incisivo pelo que considerou obsceno, pasmando no jogo duma aparente convivência normal.
Até quando?
A queda do calorifico de parede (já ligado) na banheira com água para o seu banho de imersão habitual, pareceu-lhe um acidente estúpido, nada mais. Nem sequer o curto-circuito resultante a aborreceu demasiado. Fora por acaso que contara na hora da bica e do cigarro no café da terra; aonde estava o Mendes, vizinho e amigo do casal desde os primeiros tempos, antes de enviuvar, quando os quatro formavam um grupo unido.
Apenas por acaso!
Mas o Mendes, ouvindo angustiado o relato do acidente, teve o cuidado de lhe explicar o perigo a que escapara por não ter ainda entrado na água quando calorífico ligado à electricidade caíra.
“Electrocutada!”, disse-lhe sem rodeios. “Foi por triz que não morreste electrocutada!”.
Maria Joana sorrira. Não fora ela quem levantara suspeitas
Na manhã de sábado seguinte — conforme depois contara — quis trabalhar nas “suas cerâmicas”, Trouxe na véspera o barro a condicionado da cidade e esta ansiosa por lhe mexer sem atender a mais nada.
Depressa dera forma a duas peças que idealizara lhe saíram bem. Assim que ficaram prontas para cozer, deu conta de que a cabeça lhe pesava, latejante. Por isso decidiu sair logo que as metesse no forno, ligando-o mínimo, a dar ocasião a voltar para as vigiar.
Desceu pela escada de caracol em ferro forjado servia a ligação directa da mansarda ao jardim, ressalvada a andar um pouco, talvez até ao café. Ainda tomava a bica quando se ouviu perfeitamente o barulho inconfundível explosão. E Maria Joana, lamentando-se tristemente, se de imediato que nunca veria as suas peças terminadas.
“Foi uma fuga de gás!”, afirmou, sem qualquer dúvida. “Por isso a cabeça me latejava…”.
O Mendes, que também ouvira, começou achar estranho dois acidentes seguidos, podendo qualquer deles ser fatal a Maria Joana.
Que estaria por detrás? O aparecimento de Jean Paul apresentado como discípulo do pintor e se divulgara servir de modelo, fora murmurado e difundido como costume na devida altura, e a moço apelidado jocosas de “boy friend” de Luís Mário, talvez por se notar o distanciamento entre o Casal. Mas nada fizera julgar o possível triângulo tivesse consequências.
Resolveu ficar alerta. Todas as noites, antes de se deitar, ao levar o “pastor alemão” a passear — já que de dia nada poderia fazer — tomara por hábito andar pelas proximidades da residência dos amigos.
Cerca de um mês mais tarde, na sua ronda que começava a considerar um exagero, Mendes ouviu dois tiros simultâneos sem qualquer grito ou ruído de luta, vindos da Vivenda Azul.
Ocorreu prontamente, temendo por Maria Joana. E então soou o terceiro disparo acompanhado de abafado grito de dor, o que o fez procurar a origem de tudo com maior afinco.
O quadro sangrento que se lhe deparou no atelier de Luís Mário, gelou-o!
Apenas o pintor se encontrava vestido, caído de lado sobre o amplo sofá. Do buraco na têmpora direita, feito por bala, jorrava sangue e no seu olhar parado mantinha-se ainda o brilho da incompreensão. Jean Paul jazia no chão, também já morto, tão vestido como nascera. Atingido no peito, sensivelmente ao nível do coração; no seu rosto ficara o ricto provocado pelo sofrimento repentino que lhe abrira a boca num esgar de dor
Com um suspiro de alívio, Mendes verificou que Maria Joana vivia. Igualmente sem roupa, concluía-se que se arrastara até ao sofá pelo rasto do próprio sangue a correr da ferida aberta nas costas, junto à omoplata esquerda.
No primeiro momento, estupidificado, Mendes não atingiu logo por que razão Maria Joana pressionava os dedos da mão direita do marido na coronha da pistola que teimosamente pretendia deixar segura com o apoio do corpo no sofá. Punha toda a diligência nesse propósito de fazer a mão de Luís Mário empunhar a arma, esgotando as últimas forças nessa tentativa. Desfalecia no instante em que o amigo se baixou instintivamente para a amparar. Mas agora a evidência não podia ser negada, nem mais clara! E tudo se perdia para Maria Joana…
Desmaiando tão depressa, não chegara a desenvencilhar-se dos finos sacos de plástico, macios e pequenos (com que se embrulha o pão nos supermercados), que conservava enfiados nas mãos e a inculpavam ao revelar como conseguira matar o marido, e o moço que posava para um estudo numa sessão de trabalho. Logicamente, surpreendidos pela visita dela, não teriam suspeitado como escondia as mãos protegidas, e a pistola, nos bolsos do roupão que levava vestido — sem nada por debaixo! E, com certeza, não lhes dera ocasião para estranharem demais.
Despir depois o roupão, ferir-se habilidosamente — e com coragem! — por detrás, para poder fingir crime passional a ser cometido pelo marido e a culminar pelo suicídio, era o seu objectivo! Infelizmente, para si, calculara mal a direcção a dar ao tiro, lesando-se mais profundamente do que contara. Não foi capaz de realizar o plano que premeditava!
Com mais tempo, tornar-se-ia brincadeira dar importância a dois saquitos amarrotados, de plástico macio, num atelier onde se junta tanto objecto avulso; na verdade, insignificantes na cena do crime, tão violento, principalmente quando ao recuperar da “tentativa de assassínio”, a que escapara milagrosamente, confessasse embaraçada a sua ligação culposa com Jean Paul (que não poderia desdizê-la), para vingança da indiferença do marido; que por sua vez se vingara, suicidando-se depois.

Como o crime passional visto desse ângulo seria correcto! Só que não é fácil, o crime perfeito…

Gun Crime Ilustração de Noma Bar


TEMA — POESIA DO CRIME — OS POLICIÁRIOS
De José Feiteira da Bessa
Os Policiários tudo correm
e o Mundo vêem passar;
Aqui e lá descem e sobem
para a gente investigar!

E olham tudo em redor
com a visão multiplicada;
Claro, lembram qualquer açor
à espreita duma caçada!

Todos têm cara de ladrões,
mesmo que desconheçam tal
ou, sim, talvez levem a mal!

Mas todos somos criminosos,
e ao mesmo tempo queixosos,
em todas as nossas acçõesl




DICIONÁRIO DE AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA NARRATIVA DE ESPIONAGEM (7)

8 – ARNO (MARC)
1937


Marc Arno é um dos pseudónimos literários utilizados por Jean-Pierre Bernier a partir de 1959. Escreve para as edições Arabesque na colecção Espionnage sob os pseudónimos Paul Orney, yves Sinclair e Gil Darcy, este último o pseudónimo colectivo criado por Georges J. Arnaud.
O escritor publica MAIS DE 100 títulos de espionagem e os seus livros encerram uma intriga bem elaborada que cativa o leitor.
A obra do autor editada em França como Marc Arno pode ser consultada AQUI
E sob o pseudónimo Paul Orney, AQUI

Em Portugal sob o pseudónimo Paul Orney:

1 – Segredo Provisório
Surpresa — Vila do Conde (1963)
Colecção: Policial Corvo Nº32
Tradução de J. Ferreira de Almeida
Título Original: Secret Provisoire (1958)


2 – O Agente Triplo
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº25
Tradução de Fernando Brito de Sá
Título Original: Liquidez L’Agent Tripe (1958)




3 – Coordenadas Do Perigo
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº31
Tradução de Fernando Brito de Sá
Título Original: Coordonnées Danger (1964)




4– Chumbo Na Ilha
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Espionagem Nº41
Tradução de Fernando de Sá
Título Original: Du Plomb Dans L’Ile








José-André Lacour


9 – AVRIL (MARC)
1919 — 2005


Marc Avril é um pseudónimo usado por dois escritores Stéphane Jourat (1924-1995) e José-André Lacour (1919-2005), ambos escritores belgas que usam individualmente uma multiplicidade de pseudónimos. Marc Avril é ao mesmo tempo o nome do(s) autor(es) e o nome do herói que dirige a sua própria agência de espionagem com colaboradores tão doidos como o chefe. Foram escritos 58 títulos nesta série, iniciada em 1970 com Puisqu'il Faut L'appeler Par Son Nom… e com o ultimo título publicado em 1987, Avril Et La Pharaonne. São descritos como livros de leitura agradável e divertidos.
Marc Avril editada em francês pode ser consultada AQUI

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